sábado, 9 de abril de 2011

VIAJANTES AÇORIANOS NAVEGANDO SEUS SONHOS

VIAJANTES AÇORIANOS NAVEGANDO SEUS SONHOS
*MARIA REGINA SANTOS DE OLIVEIRA

A herança cultural de origem açoriana que marca o Rio Grande do Sul apresenta valores específicos que a identificam no contexto da cultura luso brasileira.
Ao longo do texto, procuro mergulhar no tempo para identificar o homem açoriano que percorreu, no século XVIII (1748.56), 8.000 Km, embarcações, movidas a vela, para colonizar e povoar de sonhos o sul do Brasil,mais precisamente o municipio de Osório. A marca forte do açoriano ficou na cultura popular, na religiosidade,gastronomia, danças, literatura popular, produção artesanal, nos jogos e brincadeiras.
A denominação Açores, dada ao arquipélago de nove ilhas, deriva de uma espécie de águia (gavião) conhecida por Açor, supostaamente encontrada pelos primeiros marinheiros que visitavam as ilhas. No entanto, há quem diga que as aves encontradas eram búteros (Águia-de-asa-redonda).
Os Açores estão situados no Oceano Atlântico Norte, em uma posição estratégica entre a Europa, América e África. Distante aproximadamente 1,500km de Lisboa(Portugal Continental), 3.900 km da Costa Oriental da América do Norte.
O arquipélago dos Açores é composto de nove ilhas: Santa Maria, São Miguel, Terceira, São Jorge, Faial, Pico, Graciosa, Flores e Corvo. Somam a superfície total de 2.344km², dispostos ao longo de uma faixa NW-SE, com cerca de 66.000 km².
A ocupação humana da região dos Açores resultou da necessidade de Portugal controlar os pontos chaves de abastecimento e a guarda das Rotas de Navegações para o Oriente e América. Mesmo diante das inúmeras dificuldades que cercaram o povoamento dos Açores, desde as condições geoclimáticas e sísmicas, passando pelo isolamento oceânico, foi o arquipélago em poucos anos povoado, transformando-se em um grande ponto de apoio às viagens portuguesas e espanholas.
A descoberta do arquipélago dos Açores insere-se na grande epopéia dos descobrimentos marítimos no final da Idade Média e início da Idade Moderna, promovida pelas Coroas Ibéricas Portuguêsas e Espanholas. A moderna historiografia, apoiada em estudos cartográficos antigos, admite que o descobrimento dos Açores se verificau no ano de 1427, por Diogo de Silves, de nacionalidade portuguesa. Frei Gonsalo Velho teria depois, sido encarregado do respectivo povoamento na década de 1430, a partir do setor oriental do arquipélago( Santa Maria e São Miguel).
Teria aportado na ilha de Santa Maria pela primeira vez em 15 de agosto de 1432. São Miguel só seria atingido em 1444. As ilhas do grupo ocidental (Flores e Corvo) só foram descobertas em 1452 por Diogo de Teive. Até a morte do Infante D.Henrique em 1460, a colonização centra-se principalmente em São Miguel e Santa Maria. Nos decênios seguintes progride nas ilhas do grupo central.
A ocupação demográfica do Arquipélago resultou da junção de vários grupos étnicos culturais, procedentes tanto do continente europeu como africano. Para Santa Maria e São Miguel foram no inicio gente do continente Português:
Estremadura Algarve e Alentejo, que povoaram o grupo oriental. Para as ilhas Terceira e Graciosa foi o povo das províncias portuguesas montanhas, liderados por Jácome de Bruges. Para o Faial foram as famílias flamengas(Holandeses) que capitalados por Jose de Huertore ali desenvolveram as primeiras indústrias locais, dentro as quais a do pastel.
Para São Jorge foram também muitos homens de Flandres que acompanhando Guilherme Van Der Haggen, depois da Silveira, acabariam de fixar-se no topo. Para o Pico foram as primeiras famílias terceirenses que se instalaram para os lados das Lages e depois flamengos do Faial, para as Flores e Corvo, a mesma massa anônima do povo das várias províncias misturados a flamengos.
A estes povoadores europeus listados, somaram-se franceses, italianos, mouros, negros e ingleses que originaram o povo açoriano. Étnica e culturalmente com valores diferenciados de suas origens, resultantes dos séculos de ações interétnicas ocorridas no semi-isolamento da maioria das ilhas.
Resultantes da ação dos vulcões gerados no fundo do oceano, as ilhas dos Açores, apresentam um solo extremamente rico, mas de dificil cultivo, por ser pedregoso em sua maior parte. Os movimentos sísmicos ao longo dos séculos criaram um relevo ocidental, aplainado em muitos pontos, com a marca de antigas crateras vulcânicas. Destacam-se como ilhas de maiores elevações a do Pico, que apresenta a maior elevação de Portugal (2.351 metros) e a de Santa Maria com (1.587metros).
O clima dos Açores é temperado oceânico, influenciado pelas massas de ar polar e tropical. O oceano em especial tem uma ramificação da corrente do golfo, é um grande regulador técnico possibilitando que a região apresente uma fraca oscilação térmica anual e pluviosidade regularmente distribuída ao longo do ano. No entanto, nas vertentes voltadas ao Sul das ilhas do grupo central e oriental, existem meses secos. A temperatura média anual é de 17ºc, os meses mais chuvosos são os de outubro a março.
Portanto, os imigrantes açorianos desembarcados em Desterro no século XVIII(duas 1748-56), já estavam acostumados com o tipo de clima que aqui encontraram.
Marcados com duas estações definidas (verão e inverno), em que os regimes dos ventos tinham influência direta. Quanto às estações do ano, o inverno nos Açores e de dezembro a março no Brasil é de junho a setembro. O regime dos ventos de influência maior na mudança do clima no sul do Brasil é o vento sul, por estar perto do pólo sul. Nos Açores este vento é o norte, pela latitude do arquipélago.
O arquipélago dos Açores, pelas suas características do solo vulcânico, vegetação diversificada e vida marinha abundante tem a plena consciência das limitações impostas pelo meio ambiente, de relevo acidentado constantemente submetido a cataclismos naturais, tais como os terremotos, furacões, chuvas torrenciais, o açoriano aprendeu a explorar os recursos naturais de forma intensa.
A variedade de grupos étnicos culturais que povoaram os Açores correspondem a uma diversidade de traços culturais que se refletiu no sistema produtivo regional. Paralelamente as atividades econômicas cíclicas , que marcaram as exportações do arquipélago dos Açores, desenvolveu-se uma produção de gêneros agrículas de subsistência e a pesca artesanal, que garantiram ao longo dos séculos a sobrevivência do povo açoriano, notadamente a das comunidades que ficaram afastadas dos portos comerciais de Angra do Heroismo, Horta e Ponta Delgada.
Os motivo que levaram os portugueses às ilhas dos Açores foram, com exceção do ouro, os mesmos que o açucar, as cores para a tinturaria e os couros, os vinhos e as madeiras, mais tarde veio o ciclo do trigo, pastel, pecuária leiteira. Quando ocorriam cataclismos naturais, registravam-se quadros de muita miséria e fome. A pesca nos Açores foi e é uma atividade de grande importância para parte da população. Os fatores geoclimáticos, a dispersão das ilhas e o fraco mercado consumidor que exerceram influências na economia açoriana no passado continuaram a pesar na dinâmica econômica regional. Tais fatores são, hoje acrescidos de falta de mão-de-obra jovem para o setor primário (agropecuário e pesqueiro) que continua a ser na economia regional, o mais forte emprego de mão-de-obra, mas os jovens não se sentem atraidos.
Inicialmente, como no caso brasileiro, os Açores foram divididos em capitanias hereditárias, cujos donatários exerciam seus poderes através dos Capitães Donatários. O sistema foi aplicado desde o início do povoamento dos Açores, em 1439, estendendo-se até o ano de 1766, quando foi criada a Capitania Geral dos Açores. O sistema de capitanias hereditárias durou, 327 anos. O sistema autônomo de 1895 a 1976. Do decreto de 2 de março de 1895, que institucionalizou o regime autônomo para os Açores, estabeleceu a divisam do arquipélago em 3 distritos administrativos, com sedes respectivos nas cidades de Angra do Heroísmo, Ponta Delgada e Horta, sem no entanto, assegurar ao povo Açoriano os direitos que desejavão desfrutar. Alguns foram efetivamente conquistados em 1976, outros encontram-se ainda em fase de conquista.
Os Açores hoje no que tange aos aspectos sociais e culturais, na estrutura social do arquipélago com um potencial de mão-de-obra que pode ser capacitada e aproveitada em atividades terciárias ou secundárias, nos centros urbanos mais expressivos, indica as possibilidades de sucesso de alguns setores em que podem ser estimulados com investimentos a longo prazo, com destaques para o turismo.
Presentimente nos Açores, convivem duas estruturas sociasis antagônicas.
Uma consevadora, detentora do poder econômico cultural tradicional, disseminada por todo o arquipélago, com características locais. Outra, representada por uma massa de trabalhadores de baixa renda ou desempregados, associados a camadas jovens da população, centrada basicamente nos grandes centros urbanos, que refletem a crise na sociedade açoriana frente à dinâmica econômica social na comunidade Européia.
Culturalmente, os Açores passam uma fase de transição em que convivem com valores culturais tradicionais, confrontando-se com novos valores notadamente frutos da mídia eletrônica e da influência cultural,( Canadensse e Americana) entre a população mais jovem.

Os valores culturais tradicionais dos Açores são: Tourada à corda; ciclo do Divino Espírito Santo; Festa do Santo Cristo do Milagre; As Festas de São João ou Joaninas.
A arquitetura Açoriana desenvolvida no arquipélago dos Açores refletiu os modelos construtivos existentes em Portugal continental em diferentes épocas.
Adaptando-se aos materiais de construção existentes nas ilhas, foram-se sucedendo as formas arquitetônicas, tanto civil quanto militar e religiosa, com o passar dos séculos geraram uma variedade de modelos, hoje observáveis, que refletiram diretamente a dinâmica social, política e econômica das diferentes ilhas ao longo dos séculos XV a XX.
No período do povoamento (1430 – 1582), a arquitetura está embutida na paisagem é muito baixa, tem janelas pequenas e em número reduzido.
Geralmente com uma só entrada, tipo defensiva, as formas são triangulares que não deixam entrar luz, no período da emigração para o Brasil (1642 – 1760). Arquitetura de linhas muito elaboradas, janelas grandes e em grande quantidades. Ornamentação abundante sobre portas e janelas principais.
A música popular açoriana, registra a influência de melodias declaradamente portuguesas e afro-americanas e que, por sua vez sofreu a influência das condições geoclimáticas e do isolamento.
Nos Açores, as canções diferem de ilha para ilha, apresentando traços básicos de uma origem comum. O mesmo se observa com as danças, a chamarrita, o pezinho, charamba, manjericão, bela aurora e os bailhos são músicas açorianas de grande beleza que apresentam variações regionais.
O processo de emigração açoriana no Brasil, desenvolveu-se em ciclos alternados, que começando no início do século XVII, estenderam-se distintos, os emigrantes açorianos dos séculos XIX-XX tiveram como motivação a busca de melhores condições de vida.
Ainda que representando dois momentos distintos os emigrantes açorianos dos séculos XVII - XVIII e os dos séculos XIX-XX tiveram como motivação a busca de melhores condições de vida.
As dificuldades de sobrevivência no arquipélago, principalmente nas épocas de catástrofes que afetam a produção agricola, grande fome genralizada entre os pobres, os constantes perigos dos terremotos e a falta de perspectivas para os menos afortunados foram fatores que influencionaram decisivamente nas correntes emigratórias dos Açores, tanto para o Brasil, como para outras áreas do mundo ao longo dos últimos 350 anos.
Consciente das possibilidades de sucesso destes emigrantes onde fossem assentados, por estarem acostumados a situações geopolíticas e econômicas instáveis, houve empenho da coroa portuguesa em viabilizar a saída de grandes levas de açorianos para o Brasil, ao longo dos séculos XVII e XVIII.
Alguns milhares de emigrantes deixaram os arquipélagos dos Açores e Madeira, para uma viagem sem volta. Nas vastas paragens do território brasileiro, tanto na bacia amazônica (Pará e Maranhão) e no Brasil Meridional (Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Acredita-se, ainda que para além dos embarques oficiais da época, centenas de açorianos chegaram ao Brasil de forma isolada, clandestinamente, nos barcos das armações baleeiras e mercantes que demandavam ao continente americano, em um processo que avansou pelos séculos XIX e XX.

FATOS MARCANTES DA HISTÓRIA DOS AÇORES

1493 – Em fevereiro, Cristovão Colombo ao retornar de sua viagem em que descobriu a América (12 de outubro de 1492), desembarca na Ilha de Santa Maria para pagar promessas, devido a forte temporal enfrentado por sua esquadra junto ao arquipélago dos Açores.
1522 – Grande terremoto sacode o arquipélago causando imensa destruição, notadamente na Ilha de São Miguel. A cidade de Vila Franca do Campo foi profundamente atingida, levando-a à decadência econômica e favorecendo o aparecimento de Ponta Delgada como principal cidade de São Miguel.
1580-82 – A Ilha Terceira torna – se o último baluarte português de resistência ao Domínio Felipino, Felipe II, rei da Espanha, reúne sob seu domínio as coroas portuguesas e espanholas (1580-1640).
No ano de 1581 ocorre a batalha da Salga, em que 2.000 soldados leais a Felipe II, sob o comando de Pedro Valdez, foram destroçados juntos ao Porto Judeu, pelos partidários de D. Antônio de Castro, pretendente ao trono português. Os terceirenses, em menor número, utilizaram uma manada de gado bravio para lançar os espanhóis nas ribanceiras.
Nova batalha, desta vez naval foi no ano seguinte travada em frente à Vila Franca do Campo (Ilha de São Miguel), em que os espanhóis foram novamente derrotados. Os Açores só foram efetivamente dominados dois anos após. Portugal Continental e suas colônias já estarem sob domínio de Felipe II.
1830 – Revolução Restauradora – sob a liderança de D. Pedro IV (D. Pedro I, do Brasil), é formado na Ilha Terceira, um Conselho Regional (antimiguelista) para lutar contra D.Miguel que havia usurpado o trono português de sua sobrinha, D. Maria da Glória.
Em 1832, D. Pedro se transfere para os Açores de onde após assumir o governo provisório, inicia a conquista de Portugal, destronado seu irmão D. Miguel e assumindo a coroa portuguesa com o título de D. Pedro IV.
Em 2 de março de 1895 iniciou-se o processo autônomo da Região dos Açores, que conforme depoimento de Pacheco de Almeida, foi apenas um ensaio só consolidado em 1976, e que ainda esta em construção.
1943 – 45 – Participação na Segunda Guerra Mundial – Por sugestões das forças aliadas, nomeadamente a Inglaterra, Salazar, presidente de Portugal, concede facilidade de bases navais e aéreas. Desta facilidade concedida aos aliados, resultou logo o enfraquecimento da guerra submarina.

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