sexta-feira, 2 de abril de 2010

Romeiros de São Miguel





















Romeiros de São Miguel






No dia primeiro de Abril, na igreja da Nossa Senhora do Rosário, às 19hs e 30min houve o encontro de romeiros da Vila Rabo de Peixe, encontro este que reuniu mais de 130 romeiros, a maioria pescadores e agricultores. Um grupo foi escolhido para representar os 12 apóstolos o padre da paroquia fez o ritual do lava pés. Canticos e orações saldaram os romeiros.












É Quaresma!!! E portanto a tradição dos romeiros na Ilha de São Miguel se faz durante oito dias, percorrem toda a Ilha de São Miguel a pé, rezando e cantado enquanto caminham e nas Igrejas e capelas das localidades. Ao final do dia pernoitam na freguesia por onde estão passando. As famílias locais recolhem em suas casas um ou mais romeiros, partilhando com eles a sua mesa e a sua fé. Na madrugada, levantam-se para continuarem a sua romaria. Com eles levam apenas uma mochila, que contém as suas refeições. O traje consiste num xaile, num lenço colorido, um terço de lágrimas e um bordão. Caminham em oração sob o Sol, chuva, vento, calor ou frio.






A origem destas romarias remonta a calamidades ocorridas no século XVI, nomeadamente o sismo de 1522, que destruiu em parte Vila Franca do Campo, na altura a capital dos Açores. Porém, os factos apontam para que o nascimento dos ranchos de romeiros se tenha dado um pouco mais tarde, em 1563, ano em que se sucederam grandes erupções vulcânicas, atingindo toda a ilha.Este tipo de calamidade era, na época, considerado como um castigo divino pelos pecados dos homens.Sabe-se, por relatos de Gaspar Frutuoso, que durante os vários dias que duraram os sismos e erupções, o povo foi realizando pequenas procissões de igreja em igreja, pedindo misericórdia. Diz-se, também, que muitos fugiram, de barco ou a nado, para o Ilhéu de Vila Franca, zona mais afetada dada a proximidade do centro da actividade vulcânica. De qualquer maneira, o povo afirmou ter-se sentido protegido por Nossa Senhora. Atualmente, saem, todos os anos, dezenas de grupos de romeiros, todos homens, mas provenientes das mais diversas classes. Eles percorrem a ilha, indo a todas as igrejas que venerem a imagem de Maria, partindo num sábado e regressando ao ponto de partida no domingo seguinte. Para além do calçado confortável (normalmente sapatilhas), a indumentaria é simples e rapidamente reconhecível: xaile de lã sobre os ombros, lenço e terço ao pescoço, saco de pano para os haveres indispensáveis, bordão para ajudar a longa caminhada e mais um terço, na mão.Caminham em duas filas, ocupando uma faixa da estrada, ou, em ruas mais estreitas. À frente do grupo, e no meio das duas filas, vai o “porta-cruz”, sempre o mais novo do grupo, por isso, normalmente uma criança é escolhida. É sempre curioso notar que, ao contrário do que sucede com muitas tradições regionais, as romarias têm sempre a participação de homens e rapazes de varias idades. Ocupando posição central, embora já no fim da procissão, vão ainda o mestre, obedecido por todos, e o procurador de almas.Este recebe os pedidos de orações das pessoas que vêem o rancho passar (muitas vezes, são pedidas orações por pessoas que se encontram gravemente doentes). O procurador é, aliás, a única pessoa com quem se pode falar, pois todos os outros só podem abrir a boca para cantar as rezas. Qualquer conversa terá de ser autorizada pelo mestre, inclusive nos momentos de descanso. Trata-se de um tempo de sacrifício e penitência.À noite, os romeiros são acolhidos por pessoas da freguesia em que se encontram, sendo que estas, não raras vezes, dão a sua cama, preferindo dormir no sofá ou passar a noite a rezar na sala ou na cozinha. De fato, para muitas pessoas, dar abrigo a um romeiro é tão sagrado como a própria romaria, e já diversas vezes se ouviram relatos de gente pobre que ofereceu toda a sua comida a estes homens, ficando em jejum. Por isso, antes de se deitar, o romeiro reza sempre um terço pela família que o acolheu.Apesar de ser o procurador quem se encarrega de receber os pedidos, a encomendação das almas são uma das obrigações dos romeiros, que prosseguem sempre cantando, num lamento característico e que tem raízes medievais. São encomendadas tantas orações quantas as pessoas que formam o rancho, às quais se acrescentam sempre três: Pai, Filho e Espírito Santo.

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